Professor Charles Bicalho em Harvard, durante ciclo de palestras em universidades norte-americanas
Uma pesquisa iniciada ainda nos anos 1990, sobre a tradição oral dos povos indígenas Maxakali e Tikmû'ûn, e que se estende até os dias de hoje, acabou despertando o interesse de estudiosos no exterior e proporcionou que o professor Charles Bicalho, atualmente lecionando nos cursos de graduação da Unidade Cláudio, pudesse dar visibilidade internacional ao acervo, que já contabiliza dez livros bilíngues (Maxakali-Português) e 20 filmes, entre documentários e animações.
A partir de sua exposição oral durante um encontro continental de literaturas ameríndias, em Bogotá, Colômbia, no ano passado, surgiu o convite para expor as experiências em instituições de ensino norte-americanas, como a Duke e à UNC - Chapel Hill. A partir daí, os convites se estenderam para outras universidades, como a Harvard, TUFS, Boston e MIT.
Assim, em sete dias, entre o final de outubro e início de novembro, o professor construiu uma jornada de pouco mais de 10 participações entre aulas e palestras a estudantes de graduação e pós-graduação, brasileiros ou não, interessados nos estudos sobre cinema, língua portuguesas, cultura brasileira e estudos culturais.
"A recepção foi enorme, maior do que eu esperava. As palestras tiveram público considerável e participativo. Na Duke University foi montada uma exposição contendo fotos, textos, livros, DVS e outros objetos que forneci. Essa exposição permanecerá lá para visitação até o dia 20 de dezembro no John Hope Franklin Center, da Universidade", comemora.
O impacto positivo do ciclo de palestras gerou não somente o retorno garantido para o próximo ano, como também convites para o desenvolvimento de novos formatos de cooperação: "recebi propostas de parcerias maiores também para desenvolver projetos de pesquisas e cursos, especialmente na Duke", afirma. "Enfim, foi uma trajetória muito produtiva e que deve produzir novos frutos. Fiz grandes amizades também".
BATE PAPO | |
Leciono as disciplinas de "Conteúdo e Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa", "Cultura Midiática e Educação", "Leitura e Produção de Textos I e II" nos cursos de Pedagogia e Serviço Social; e a disciplina "Filosofia e Ética Profissional" no curso de Ciências Contábeis.
O convite surgiu de uma participação minha no V Encuentro Continental Intercultural de Literaturas Ameríndias, no ano passado em Bogotá, Colômbia. O professor Miguel Rojas-Sotelo, da Duke University, estava lá e assistiu minha fala. Ao final ele me fez o convite para ir à Duke e à UNC-Chapel Hill apresentar minhas pesquisas. A partir daí, sabendo de minha ida, outros professores/pesquisadores conhecidos meus nos EUA, como a professora Viviane Ferreira de Faria, da Harvard University, também me fizeram o convite. A professora Viviane foi a articuladora de outras conexões neste caso, sobretudo na Tufts, na Boston e no MIT.
Trata-se de pesquisa que desenvolvo desde a graduação na UFMG nos anos 1990 junto aos índios mineiros Maxakali ou Tikmû'ûn, em que pesquiso suas tradições orais literárias (cantos e narrativas) conectadas ao acervo mitológico e ritual, com base em sua língua ancestral, o Maxakali. As pesquisas continuaram pelo meu Mestrado na Universidade do Novo México (EUA), Doutorado na UFMG e dois Pós-Doutorados (um na Faculdade de Pedagogia da UFMG e outro no College of Education da Universidade do Novo México). Minhas pesquisas continuaram também no período em que fui professor da Escola de Design da UEMG em Belo Horizonte de fevereiro de 2014 a novembro de 2017. E seguem até hoje em projetos acadêmicos.
Porque os Maxakali detêm uma das 274 línguas indígenas ainda existentes no Brasil, com uma quantidade enorme de cantos e narrativas que têm potencial para serem transformadas em livros, filmes, fotos e todo tipo de linguagem midiática moderna. É o que temos feito junto a eles. Já publicamos mais de dez livros bilíngues (em Maxakali e Português), mais de vinte filmes, dentre documentários e animações (todos falados em Maxakali e legendados em português, espanhol e inglês). Como pesquisador da área de mídia e comunicação tenho interesse no assunto e acho importante divulgar para os outros brasileiros e eventuais estrangeiros a riqueza literária, cultural e artística, dentre outras, de uma língua e tradição como essa. |