As comemorações pelos 80 anos da Escola Guignard, que ocorrem a partir desta semana e ao longo deste ano, foram tema de uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada no último domingo (25/2). O texto, presente nas versões digital e impressa do jornal paulistano, dá ênfase ao caráter criativo da instituição e celebra a história de vida de seu precursor, o artista plástico Alberto da Veiga Guignard.
"Quando o instituto abriu as portas, a capital mineira, com menos de 300 mil habitantes, estava à margem de boa parte das inovações que se espalhavam por Rio de Janeiro e São Paulo. (...) Guignard levou outros ares a Minas, assim como a vida no estado colocou a obra do artista em um novo plano", diz o texto, assinado pelo jornalista Naief Haddad.
Em 1944, ano em que a Escola Guignard foi criada, a instituição ainda se chamava Escola de Belas Artes. Naquela época, o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, trouxe o insurgente Guignard à cidade para dirigi-la, dando início a uma história marcada pela agitação cultural.
Uma obra do artista plástico que retrata o então prefeito da capital mineira, feita em meio à sua chegada ao estado, ilustra bem esse ambiente subversivo. Exibida, pela primeira vez, em maio de 1944, a pintura não foi bem recebida por parte da crítica, que parecia não compreender o estilo de Guignard: "Retrato incompleto do dr. Juscelino Kubitschek, a ser concluído oportunamente pelo sr. Alberto da Veiga Guignard", escreveu um jornalista do Estado de Minas, relembra a reportagem.
O que o jornalista chamava de "retrato incompleto" nada mais era do que o traço do artista. Conforme afirma o texto, as obras de Guignard, materializadas em pinturas, desenhos, ilustrações e gravuras, foram responsáveis pelo "amadurecimento do ambiente artístico local, que podemos chamar de pré-moderno naquele momento. Os embates que tinham acontecido no Rio e em São Paulo começaram a ganhar forma em Belo Horizonte, e foi Guignard quem causou essa faísca", explica Marcelo Bortoloti, autor do livro "Anjo mutilado", biografia de Guignard, lançada em 2021, pela editora Companhia das Letras.
À frente da atual Escola Guignard, Alberto da Veiga Guignard também formou outros importantes artistas plásticos, como Amilcar de Castro, Yara Tupinambá, Maria Helena Andrés, Laetitia Renault e Jarbas Juarez. Ele faleceu em 1962, deixando um imenso legado que, este ano, será celebrado em uma série de ações comemorativas ao 80º aniversário da Escola Guignard, como exposições, concertos, mesas e oficinas.
Nesta terça e quarta-feira (27 e 28/2), o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes recebe o concerto "As minas de Guignard". Com lotação esgotada, o evento terá a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), sob regência de Ligia Amadio, ao lado de músicos como Toninho Horta e Marcus Viana, executando obras de compositores e arranjadores mineiros.
Na quinta-feira (29/2), a Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, também no Palácio das Artes, abre a exposição "A paixão segundo Guignard". A mostra, com curadoria de Paulo Schmidt e Claudia Renault, vai abordar o pioneirismo do artista plástico e a maneira como seu trabalho reverberou, sobretudo, na primeira geração de artistas que conviveram com ele.
Para a diretora da Escola Guignard, professora Lorena D'Arc, a exposição se manifesta como fruto da afeição entre a instituição e Minas Gerais. "Nessas oito décadas de existência, muitas histórias pontuaram a trajetória de resistência da Escola Guignard, que, a cada momento, se depara com novos desafios. Os elos afetivos que enraizaram os rumos dessa Escola ainda a permeiam", afirma. "A união afetuosa de ex-alunos e amigos da Escola Guignard, nos cargos de gestão, curadoria, produção, exposição e educativo, celebra o legado do mestre que fez, da liberdade e disciplina, a raiz ontológica de sua pedagogia. Guignard fez, do modo de ver, um modo de transformar a arte e a vida", explica Lorena.
A abertura da exposição "A paixão segundo Guignard" ocorre às 19h. A mostra ocorre até o dia 12 de maio, é gratuita e tem classificação livre.
Clique aqui e leia a reportagem da Folha de S.Paulo, "Como Guignard injetou a arte moderna em BH com escola fundada há 80 anos".
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Por Elias Fernandes (Ascom/UEMG)